A palavra “negócios” acaba sendo erroneamente vinculada a um imaginário que se situa entre Wall Street e a Berrini, com engravatados perambulando por carros e elevadores e ratoeiras financeiras sendo montadas em cada sala. Sim, o mundo já foi assim – mas, ao menos do ponto de vista de incepção de negócios, não é mais.
Visualize uma startup. Hoje, em qualquer cidade do mundo, as empresas mais empolgantes nascem a partir de ideias de empreendedores criativos e não necessariamente ricos.
Claro: criatividade pura não basta. Às vezes até atrapalha: a paixão pela ideia que costuma caracterizar um empreendedor costuma ser um problema na medida em que o deixa míope quanto a custos efetivos e à necessidade de modelos de receita consistentes já no curto prazo.
Ainda assim, mesmo considerando a alta taxa de mortalidade de startups em todo o mundo, é também delas que as mais brilhantes inovações do mundo nascem. É justamente do caldo caótico feito por falta de dinheiro e excesso de tesão que surgem empresas como o próprio Facebook ou Google, para ficar apenas nos exemplos das duas gigantes.
Onde quero chegar com tudo isso?
Simples: os novos celeiros de negócios não são mais as grandes avenidas comerciais de grandes metrópoles, mas sim os pequenos “guetos empreendedores” que se formam nos locais mais improváveis.
Os empreendedores já sabem disso: hoje, eles trabalham de suas casas ou de ambientes de co-workings onde imperam criatividade e informalidade; fazem parcerias com outros empreendedores de todo o mundo; vivem e trocam experiências por meio de Skype, Hangouts ou Facebook. Em muitos casos, eles se autofinanciam tomando freelas, mantendo um segundo emprego ou pedindo a ajuda dos pais – e, apesar do sempre existente sonho de viverem das suas próprias ideias, acabam em grande parte crescendo – ou morrendo – sem nunca ter visto um potencial investidor.
E não é que não haja investidores disponíveis por aí – eles existem, e aos montes. Só que deixaram de ser absolutamente essenciais para a grande maioria dos empreendedores que, apesar de enxergá-los como uma espécie de sonho semi-utópico, acabam se focando nos desafios do dia-a-dia.
Quem mais perde com isso? Os próprios investidores, claro: afinal, os seus modelos de negócio dependem unicamente de fecharem acordos com projetos de alto potencial. Para que serviria uma bolsa de valores sem valores a serem trocados, sem compras e vendas ditando o cotidiano?
Não é que eles tenham se tornado inúteis, claro: empreendedores continuam precisando de modelos sólidos de receita e, em determinado ponto, de investimentos mais consistentes em suas ideias. Mas há uma mudança importante no cenário, uma mudança muito menos sutil do que se costuma imaginar: hoje, são os investidores que precisam saber chegar nos empreendedores certos e nos momentos perfeitos.
Hoje, eles precisam estar dispostos a desenvolver uma parceria com os seus investidos que vai muito além de entregar dinheiro e cobrar resultados: precisam saber e estar dispostos a construir juntos projetos mais robustos. Precisam aprender com a visão dos empreendedores e ensinar a língua dos financistas – que ainda existirão por muitos anos – para que seus horizontes sejam sempre mais amplos.
Ou seja: em um mundo em que os empreendedores conseguiram se auto-organizar em ambientes capazes de deixá-los ter sucesso quase organicamente com base em ferramentas e atitudes colaborativas, os investidores precisarão se mostrar muito mais relevantes do que apenas detentores sedentários de capital.
Precisarão, pela primeira vez em séculos, sair de seus ternos e trânsitos e ir até onde os donos reais das rédeas do futuro estiverem.
Ricardo Almeida
Artigo publicado originalmente aqui.
Sobre o Autor
Ricardo Almeida é criador do conceito de Webs Progressivas, da Metodologia Moebius e autor de Mirando Resultados (2001) e Medindo Resultados (2005). É especialista em planejamento e gestão de projetos digitais, com passagens por algumas das maiores agências do Brasil.